segunda-feira, 18 de abril de 2011

“Telealienação”



Serpente que dá rasteira na realidade

Caixão que define a vida em cores

Amostra que cega os fatos

Agenda que marca o descompromisso

 E que fazem mortos pensamentos no leito do sofá.

  
Medicação que adoece
                                 Adormece
                                             Empobrece.

Que carece e aquece o febril que tem ânsia do vídeo vazio que queima a realidade.


Antes lusos agora novos intrusos que vêm por ondas

Sem mar
   Sem ar
      “Sem querer” com palavras e imagens manipular
               Seres
                   Sentimentos
                             Sentidos
                                        R$ 100!

Programação de quem não se vê
Mas que não falta o compromisso da ilusão
 Que realiza sequênciais encontros
De tudo que não é.

        Os Urubus que comem ouro
            E entregam para os outros se lambuzarem
                      O palpável prazer de sons e imagens inflamados.
                                                                   

                                                                Jaciara Santos Nascimento
                                           


      
                           

domingo, 20 de março de 2011

Quando a discriminação nasce: O papel da escola no que tange ás peculiaridades das características raciais.


 
"Quero todo solto!" foi assim que ela estreou a sua autonomia verbal. Quando a criança negra vai pela primeira vez a escola, ela chega a casa chorando cristalinas tristezas. Tudo começa por um fio saliente que se multiplica por toda a sua cabeça e em seguida desce perpassando pelo seu pequeno corpo ainda em formação, mas essas características sempre estiveram ali! Embelezando-lhe e versando sua beleza e identidade negra. O que aconteceu foi que as características agora deixaram de ser compartilhadas apenas em casa. Calada, a criança é tragada pela sua "nova" imagem refletida pelo espelho da discriminação. Ela toca seus cabelos sem desconfiar que aquele seja um dos autógrafos mais expressivos e incômodos da singularidade da sua raça. Penetrando sua pequena mão entre os fios da sua existência, seus dedos são barrados bruscamente assim como foi feita com a sua auto-estima ao se apresentar a um ambiente coletivo. Sem consciência do que estava sofrendo. Ela não consegue conter o silêncio das lágrimas e verbaliza em duas palavras a impressão que lhe causou a recepção escolar. "Sou feia!". O protesto ecoa pela casa e retorna como uma faca penetrando em seus ouvidos ironicamente agora não mais protegidos pelos seus cabelos crespos, pois estes já estavam acorrentados pela chucha da opressão.


     O corpo fala a respeito de o nosso estar no mundo, é através dele que fica representada a nossa localização história na sociedade. Em um país como o Brasil onde a conjuntura estética esta estagnada nos padrões de beleza europeus é inevitável que o corpo ao mesmo tempo em que represente algo natural e comum aos homens, também seja visto como algo simbólico que crítica, contesta e desumaniza pessoas.   

    O ingresso escolar sem dúvida é o processo de construção identidária para um indivíduo. É no ambiente educacional que além de compartilhar os conteúdos convencionais, também se compartilham: valores, crenças, hábitos e preconceitos. Tendo em vista o contexto histórico do negro no Brasil, podemos notar que as características físicas do negro se afastam do padrão europeu já estabelecido no Brasil, por isso é inevitável que as "implicações" que tangem as relações raciais também estejam presentes no ambiente escolar.

   Se o início da vida escolar, é uma prática difícil pelo fato da criança perder o protagonismo que se tem no seio familiar,a experiência fica ainda mais estigmatizante quando as características físicas dessa criança vão de "confronto" com um padrão estético já estabelecido pela sociedade.A Escola é uma instituição que impõe padrões de currículo, de conhecimento, de comportamentos e também de estética que causam tendências que quererem uniformizar um padrão físico de "apresentação" escolar,trazendo um constrangimento ao início da vida social da criança.

    Dentro da escola as crianças negras são vítimas constantes de intenções "higienistas.", olhares maliciosos, piadas e apelidos pejorativos aspectos que irão trazer a tensão e a vergonha da exposição e exploração do corpo pelo aluno, meio de comunicação essencial para o bom desenvolvimento em sala de aula bem como fator de extrema importância para os relacionamentos interpessoais, aspecto de fundamental para a vida em sociedade.Como podemos perceber pertencer a um segmento étnico/racial faz toda a diferença nas relações estabelecidas entre os alunos, nos momentos de avaliação, nas expectativas construídas no desempenho escolar e na maneira como as diferenças são vistas e tratadas.

     Tendo em vista o exposto percebe-se que a escola não pode mais camuflar a questão da identidade e estética negra.A abordagem deste assunto deve ser feita para além do vinte novembro, as questões racias tem que estar na sala de aula no dia a dia atreladas as teorias escolares, dessa ação depende que o Brasil rompa totalmente o fio de padrão de beleza que ainda une o país a colonização europeia,fazendo com que criemos a nossa identidade estética que certamente não terá padrões .
                                                                                      Jaciara Santos Nascimento

                                                                                                 

quinta-feira, 10 de março de 2011

O A M O R


  



 O A M O R
Ladrona do destino da minha vida
Ri,desesperada de alivio.
O amor se rebelou dentro de mim
Me assustei com a revelaçao desconhecida
De querer um outro, em mim
Para mim,
comigo
                                        
        Olhei no espelho dos meus olhos
        ouvi lindas acusações.
        De Raiva tapei os ouvido e senti,
        o gosto da sua boca a escorrer pela minha face.
        Meu coração bombeu o medo
        Mas você, já estava coagulado em mim.



                 Minhas mãos tatearam o nada
                 você já estava dissolvido e
                espalhado pela imaterialidade do meu sentimento.
              
 Na minha boca silenciou-se a lingua
  que me dizia que eu era dona de mim.
   E Agora , que descobri a companhia do amor
   Estou só!
                                       
                                                         

                O amor me tirou a estabilidade
                 tornou me insubimissa,perdi o dominio!
                Me sinto fraca, corrompida por mim.
                                                                                      

     
Estou  Aflita!
        Roubada!
              Invadida e
                     molhada pela minha água que se condensa ao encontrar você.
                                                                                                                                                                
                                     
                                                                                       Jaciara Santos Nascimento

terça-feira, 8 de março de 2011

Dia da "mulher"?




                                                               Dia da "mulher"?
Antes nós mulheres não tinhamos hora e hoje perdemos um dia inteiro criado para "homenagear"  a nossa existência.
Oito de março, dia eleito para "falar" da mulher ,vinte e quatro horas de "alívio" para quem passa a vida inteira se requebrando em uma "imóvel" dança para a sua sobrevivência.
Tem aqueles que me felicitam por esse dia.
Rá Rá!
Sinto informar que para mim esse dia oito não tem nada de poético.
Sabem por quê?
Porque o verso desse dia não me versa o que ele me causa é uma avessa a minha existência e inteligência .
Pois,a realidade é mais rasteira,feita de peso e de pés na terra. E nós mulheres negras principalmente sabemos que com a gente o buraco é bem mais embaixo.
Mulheres negras e brancas igualdade de gênero ,mas lutas apartadas.
Por trás do brilho e da luz "pálida" do sol é que realmente existe luta,suor e guerra.
Sem querer desmerecer a luta das mulheres brancas mas,ontem no carnaval de Salvador não pude deixar de perceber as "mudanças" da luta feminista.A mulher branca conquistou o direito de brincar o carnaval da avenida e a negra sabemos bem o peso da corda que lhe restou de conquista. Hoje,nós trios elétricos teremos várias "homenagens" as mulheres...
   Mas  nós  mulheres negras não queremos homenagens,queremos oportunidades,queremos alegria, queremos uma transfusão de respeito nos entrando na veia até nos engolir.
                                                                                                                  Jaciara Santos Nascimento

sexta-feira, 4 de março de 2011

Tornar se negra - Do fio ao colar


     Denegrir o branco do papel com as letras da minha caminhada me parece uma proposta estranhas ,pois nunca tive a oportunidade de escrever sobre mim,sempre fui craque em escrever e descrever a história dos outros.Mas farei! E vou inciar dizendo que eu era um fio e na minha caminhada fui juntando miçangas, hoje me considero uma mulher adornada de conhecimento e de consciência do que é ser negra.

      ...E o amor aconteceu entre meus pais e como fruto desse amor cheguei ao mundo no dia 04 de abril do ano de ( há! isso não interessa tanto rs) na cidade de Camamu.Saindo do interior vim com minha mãe para Salvador com apenas alguns meses de vida, passamos então a morar no bairro do Fazenda Garcia, local onde mora meus familiares paternos . E assim fui crescendo cercada do amor dos meus familiares, até que chegou o momento de sair do casulo familar para enfrentar um ambiente mais coletivo e assim fui matriculada em uma escola.
   
      Inicialmente estudei em uma escola particular no bairro do Garcia , lá foi onde pude começar a ver as particularidades caracteristicas existentes entre mim e os meus colegas brancos,em sua maioria.Essas particularidades por mim notadas vinham desde as características físicas até a distinção feita entre mim e meus "amiguinhos" pelos professores. Costumo dizer que a escola é o primeiro local onde uma criança negra é totalmente exposta as práticas racistas. Tendo em vista que é no ambiente educacional o local ondea criança negra começa negar a sua identidade enquanto negra.

     Ora! Como não me negar diante de tantos aspectos com os quais eu não me identificava devido as minhas características . Eu não era comparada aos personagens de histórias contadas pelos professores, eu nunca fazia parte das peças organizadas pela escola e nunca podia soltar meus cabelos nos dia do banho de mangueira, prática comum entre as outras crianças: a mim era negada sob a alegação da dificuldade de pentear meu cabelo depois. Essas e várias outras limitaçãoes somadas a falta de representividade negra dentro da escola fizeram com que eu me tornasse uma criança recalcada.
     Com o passar da minha idade fui tentando me libertar de tudo que me identificava como negra.Para assumir características físicas e culturais de uma história que não me pertencia, alisei os cabelos,comecei a me vestir como as colegas brancas e negava as religiões de matrizes africanas.O mais engraçado de tudo isso era que eu fazia de tudo para me adequar aos aspectos exigidos pela sociedade racista e por mais que eu fizesse,eu não era aceita e as exigências sociais continuavam a aparecer; na mídia,na escola ,com os amigos, cada vez mais e em níveis mais elevados e agressivos. Isso me colocava em um dilema que trouxe uma série de prejuízos a uma época da minha vida que nunca irá retornar.

     A história única imperou na minha vida da minha infância até o inicio da minha idade adulta , por isso refletir sobre essa fase dificíl da minha história só me faz perceber o quanto é nocivo o que a sociedade racista impõe as crianças e adolescentes negras lhes negando o conhecimento da história do negro,lhes negando o direito de saber dos nossos reis e rainhas, da nossa riqueza cultural, da nossa luta pela liberdade, dos grandes líderes negros e negras, da nossa literarura...Infelizmente a história do ponto de vista do negro não nos é passada na escola, o que lá aprendemos é sobre o sofrimento dos negros , sua passividade diante das dificuldades impostas pela escravidão e da generosidade de uma princesa que se sensibilizou resolvendo nos libertar. Essa escravização histórica pela qual eu passei fazia com que eu não me sentisse incluída e nem representada dentro dos espaços sociais, reduzindo a minha auto-estima e consequentemente o orgulho de ser negra.

    No 3º ano do ensino médio e com 17 anos conheci o quilombo educacional Stive Biko,o divisor de águas em minha vida.Ingressei no curso pré vestibular da instituição e lá percebi que eu estava em um ambiente diferente ,uma sensação de acolhimento e de conforto antes sentida apenas no aconchego familar fez com que eu pudesse ter prazer em estar em um local coletivo.Na Biko, eu pude conhecer uma outra história, uma história que me representava, comecei a me reconhecer e a me orgulhar de ser uma mulher negra com meu cabelo,meu nariz e com todas as outras características negras que antes sussurravam timidamente e logo passaram a gritar no meu corpo , no meu discurso e até mesmo em meus pensamentos.

     Esse conhecimento proporcionado pela Biko fez com que minha auto-estima se elevasse me auxiliando para que eu conseguisse passar no vestibular da UFBA, tarefa que antes eu considerava impossível .No ano de 2008, eu entrei na Universidade no curso de Secretariado Executivo, um curso importante com suas especificidades, mas que não contemplava um debate no que tange as questões sociais e racias.Inconformada com essa deficiência do curso, aliada a um prévio conhecimento do curso de Letras no ano de 2009 resolvi prestar novamente vestibular,passei e no início do ano de 2010 dando inicio a uma nova etapa da minha vida.

    Após cursar 2 semestres do curso de Letras e de me envolver bastante com quetões políticas, eis que encontro um outro ambiente onde volto a me sentir acolhida e segura o PET/COMUNIDADES POPULARES, programa que trabalha com questões que mexem diretamente com a minha essência. Mas essa já é uma outra história da minha vida que eu ainda não posso contar,pois continuo a catar as miçangas, não sei ao certo onde nem quantas vou precisar, mas adianto que serei a única responsavel pelo adorno do  colar Jaciara, já que agora aprendi e me apoderei do direito de montar e escrever uma história diferente para a mulher negra.                                                                               Jaciara Santos Nascimento

quinta-feira, 3 de março de 2011

" Uma história do Negro no Brasil"


                                                                                                                                                                   
           Todos sabem os perigos e prejuizos que uma única história pode causar,durante muito tempo a sociedade brasileira tem lido e escutado a história do negro no Brasil de forma racista.Visando uma real contribuição para a legitimação da historia do negro na sociedade brasileira, nasce o livro" Uma história do negro no Brasil" obra essêncial para tirar o negro da condição de passividade histórica, colocando o na posição de protagonista de sua própria historia, papel este que sempre foi escondido e negado.
    
       "Uma história do negro no Brasil" surgiu como material a ser usado na lei 10.639( Lei que obriga o ensino da historia e cultura Afro-Brasileira em todos os curriculos escolares). A obra é basicamente sustentada por três pilares: Estrutura e funcionamento da sociedade africana; a adaptação dos negros no Brasil e o mais importante,o não conformismo do negro as condições de vida que lhes foram impostas inicialmente pela escravidão e em seguida pela sociedade branca racista.
 
     O primeiro tema a ser abordado no livro é a história da África desde sua formação social até seus grandes imperios. Antes da chegada dos brancos a escravidão humana era bastante comum no continente africano, devido a diversidade étnica existentes, as lutas entre grandes imperios na disputa por algumas demandas fazia com que acontecessem muitos embates entre os africanos,após esses imbates era comum que os vitoriosos fizessem escravos os membros das étnias derrotadas.Mas com a chegada dos europeus uma prática sócial e cultural africana foi transformada em um comércio humano perverso e altamente lucrativo.
     
     A segunda problemática desenvolvida pelos autores vem desde a chegado dos negros no Brasil,até os mecanismos de sobrevivência criados pelos próprios negros para driblar as barreiras impostas propositalmente pelos escravocratas, barreiras estas que tinham como principal objetivo evitar o fortalecimento da população negra. Devido a multiplicidade de povos africanos que foram trazidos para o Brasil era quase que impossível o estabelecimento de vinculos de sociedade entre os escravos.Mas, como é descrito no livro o negro através de sua inteligência e criatividade conseguiu eliminar as barreiras que lhes foram impostas mostrando uma forte capacidade de organização e resistência.

       Como mostra o livro, falar da história do negro no Brasil é o mesmo que falar de luta e resistência. O não conformismo do negro está impregnado na historia deste país, as formas de rebeldia e de luta idealizadas e protagonizadas pelos negros foram muitas, dos quilombos as revoltas e até a militancia existente nos dias atuais, só confirmam que o negro sempre esteve na linha de frente e no comando de todas as ações que tinham como objetivo o beneficio da população negra.

        Para finalizar acrescento que o livro " Uma história do negro no Brasil" é um material que muito tem a contribuir para o reconhecimento e a valorização da trajetória do negro no Brasil, bem como para o entendimento do cenário de desigualdades ainda existentes entre negros e brancos no Brasil atual.

                                                                                                                                                         Jaciara Santos Nascimento

terça-feira, 1 de março de 2011

"Lixo extraordinário"


R e s e n h a
      O Documentario " Lixo extraordianário" está concorrento a indicação do Oscar de melhor documentário. Não é de se estranhar o sucesso e a reflexão que a obra esta causando em seus telespectadores, tendo em vista a exibição da humanidade e sensibilidade existentes nas pessoas que vivem a margem da sociedade.

    O Cenário do filme é o aterro sanitário de Gramacho, que fica localizado no Rio de Janeiro local onde a sociedade descarrega e esquece tudo o que não lhe interessa as inutilidades,inclusive as pessoas. Só o cenário a mistura entre "lixo" e pessoas causa um aborrecimento a cabeça do público que apenas em lembrar mesmo que  seja por poucas horas "naquele e naquilo" que é esquecido e descartado diariamente.

    Um projeto de fotografar os catadores do Jardim Gramacho com o objetivo inicial de retrata los, acabada por nos convidar a conhecer aqueles transformados em formigas amarelas pelas imagens panorâmicas dos helicópteros e conhecermos as figuras humanas com todas as caracteríscas que nos igualam. Com o decorrer do projeto  o artista Vick exibe a sua idéia de transformar o lixo, material de sobreviência dos personagens em obras de arte, via que estreita a relação dos empregados do jardim Gramacho com a arte e seu poder mágico na vida do ser humano, trazendo a tona pessoas com sensibilidade , historias , sonhos,insatisfações e outros aspectos humanísticos que são sufocados pelos amontoados do lixo.
  
   Filmado ao longo de dois anos o documentário" Lixo extraordinario" faz junções paradoxais. Artista plástico conceitudo e conhecido com homens e mulheres "invisíveis",a sobrevivência no que é considerado morto, transformação do "lixo" em arte e a emoção da platéia mesmo diante da sua culpa em reduzir tudo e todos que não lhes interessam a condição lixo. O filme é uma denúncia a moral a sociedade que vai ao cinema assistir ao filme como cidadão, se transforma em lixo ao longo do documentário e tem a oportunidade de sair reciclado da sala de projeção.
                                                                                                                                      Jaciara Santos Nascimento